Battle for Haditha
Enviado: 14 Fev 2008, 13:16
O Iraque de Broomfield, entre fato e ficção
Clique abaixo para ver o trailer:
http://www.nickbroomfield.com/Haditha_trailer.html
Sem desgrudar do real, Nick Broomfield, um dos mais conceituados documentaristas da Inglaterra, estréia na ficção com Battle for Haditha (A batalha por Haditha). O filme remonta um dos momentos mais polêmicos – até aqui, pelo menos – da ocupação norte-americana no Iraque.
Após o comboio em que estavam ter sido alvo de uma bomba caseira, plantada na estrada por integrantes da resistência iraquiana, matando alguns e ferindo vários ocupantes de um dos blindados, um batalhão de marines enfurecidos fez uma chacina na cidade que dá nome ao filme. O episódio, na época, chegou a ser comparado às matanças em vilarejos do Vietnã.
Ainda que se trate de um reconstituição dramatizada dos acontecimentos, Broomfield apostou forte em elementos da linguagem documental para garantir o realismo.
Filmado na Jordânia e em Dubai, o filme traz atores não profissionais. Os americanos foram escolhidos entre ex-combatentes das guerras no Afeganistão e no Iraque, com histórias de vida parecidas com as dos personagens. Os iraquianos, entre jordanianos que nunca haviam atuado antes. Em ambos os casos, os atores foram descobertos durante a fase de pesquisa para o filme, que incluiu entrevistas com sobreviventes do massacre, dos dois lados. Feito em vídeo e com câmera na mão, o filme é repleto de diálogos improvisados.
Não raro, Nick Broomfield é chamado de "versão inglesa do Michael Moore". A comparação é injusta, e não apenas pelos muitos anos a mais de estrada.
Apesar da participação ativa em seus próprios filmes, aparecendo na tela para fazer suas perguntas, Broomfield, ao contrário de Moore, não quer provar aos entrevistados que já sabe tudo sobre o que vão falar. Pelo contrário, seu jogo é diferente. Sempre de fone e microfone em punho, acumulando a função de técnico de som, Broomfield na maior parte das vezes faz-se de desentendido, dissimula, dando espaço para seus entrevistados se atrapalharem sozinhos.
Nos documentários Biggie and Tupac ou Kurt & Courtney, que investigam respectivamente os assassinatos dos rappers Notorious BIG e Tupac Shakur e o suícidio do líder do Nirvana, Kurt Cobain, a suposta falta de conhecimento do assunto chegou a irritar os fãs do artistas retratados. Já em The Leader, the Driver and the Driver's Wife, sobre o líder racista sul-africano Eugene Terreblanche, um ano antes do fim do apartheid, o atrapalhado personagem de Broomfield beira a comédia. E com isso, acerta no tom, ao ridicularizar a figura de Terreblanche.
Battle for Haditha não é a primeira incursão de Broomfield em assuntos relativos a guerra. Ele já havia feito algo parecido em Soldier Girls, de 1981, sobre o treinamento de mulheres no exército dos EUA. O resultado de seu filme de ficção, no entanto, não é tão satisfatório como muitos de seus documentários.
Em diversos momentos, ainda que o protagonista Elliot Ruiz se destaque, a sensação geral é de se estar assistindo a um filme de baixo orçamento dirigido por alguém com pouca experiência (o que no caso do ficcionista Broomfield é verdade), em vez de um docudrama. O roteiro, escrito pelo diretor, esbarra na obviedade e as informações dadas nos diálogos são tão diretas e explícitas que deixam pouco espaço para interpretação.
Os cacoetes de documentarista, entretanto, ajudam na escolha dos ângulos e nas cenas de guerra, principalmente na matança. Ainda assim, no final das contas, a fronteira entre realidade e ficção não fica tão borrada como era de se esperar.
Bruno Natal
Fonte:http://oglobo.globo.com/blogs/docblog/default.asp#90076
Clique abaixo para ver o trailer:
http://www.nickbroomfield.com/Haditha_trailer.html
Sem desgrudar do real, Nick Broomfield, um dos mais conceituados documentaristas da Inglaterra, estréia na ficção com Battle for Haditha (A batalha por Haditha). O filme remonta um dos momentos mais polêmicos – até aqui, pelo menos – da ocupação norte-americana no Iraque.
Após o comboio em que estavam ter sido alvo de uma bomba caseira, plantada na estrada por integrantes da resistência iraquiana, matando alguns e ferindo vários ocupantes de um dos blindados, um batalhão de marines enfurecidos fez uma chacina na cidade que dá nome ao filme. O episódio, na época, chegou a ser comparado às matanças em vilarejos do Vietnã.
Ainda que se trate de um reconstituição dramatizada dos acontecimentos, Broomfield apostou forte em elementos da linguagem documental para garantir o realismo.
Filmado na Jordânia e em Dubai, o filme traz atores não profissionais. Os americanos foram escolhidos entre ex-combatentes das guerras no Afeganistão e no Iraque, com histórias de vida parecidas com as dos personagens. Os iraquianos, entre jordanianos que nunca haviam atuado antes. Em ambos os casos, os atores foram descobertos durante a fase de pesquisa para o filme, que incluiu entrevistas com sobreviventes do massacre, dos dois lados. Feito em vídeo e com câmera na mão, o filme é repleto de diálogos improvisados.
Não raro, Nick Broomfield é chamado de "versão inglesa do Michael Moore". A comparação é injusta, e não apenas pelos muitos anos a mais de estrada.
Apesar da participação ativa em seus próprios filmes, aparecendo na tela para fazer suas perguntas, Broomfield, ao contrário de Moore, não quer provar aos entrevistados que já sabe tudo sobre o que vão falar. Pelo contrário, seu jogo é diferente. Sempre de fone e microfone em punho, acumulando a função de técnico de som, Broomfield na maior parte das vezes faz-se de desentendido, dissimula, dando espaço para seus entrevistados se atrapalharem sozinhos.
Nos documentários Biggie and Tupac ou Kurt & Courtney, que investigam respectivamente os assassinatos dos rappers Notorious BIG e Tupac Shakur e o suícidio do líder do Nirvana, Kurt Cobain, a suposta falta de conhecimento do assunto chegou a irritar os fãs do artistas retratados. Já em The Leader, the Driver and the Driver's Wife, sobre o líder racista sul-africano Eugene Terreblanche, um ano antes do fim do apartheid, o atrapalhado personagem de Broomfield beira a comédia. E com isso, acerta no tom, ao ridicularizar a figura de Terreblanche.
Battle for Haditha não é a primeira incursão de Broomfield em assuntos relativos a guerra. Ele já havia feito algo parecido em Soldier Girls, de 1981, sobre o treinamento de mulheres no exército dos EUA. O resultado de seu filme de ficção, no entanto, não é tão satisfatório como muitos de seus documentários.
Em diversos momentos, ainda que o protagonista Elliot Ruiz se destaque, a sensação geral é de se estar assistindo a um filme de baixo orçamento dirigido por alguém com pouca experiência (o que no caso do ficcionista Broomfield é verdade), em vez de um docudrama. O roteiro, escrito pelo diretor, esbarra na obviedade e as informações dadas nos diálogos são tão diretas e explícitas que deixam pouco espaço para interpretação.
Os cacoetes de documentarista, entretanto, ajudam na escolha dos ângulos e nas cenas de guerra, principalmente na matança. Ainda assim, no final das contas, a fronteira entre realidade e ficção não fica tão borrada como era de se esperar.
Bruno Natal
Fonte:http://oglobo.globo.com/blogs/docblog/default.asp#90076